Comemorações da Tomada de Posse no Porto

Comemorações da Tomada de Posse no Porto

Câmara Municipal do Porto

11 de março de 2016

Aqui vir e aqui estar hoje a terminar as Cerimónias de Posse iniciadas em Lisboa é, a dois títulos, simbólico.

É simbólico como homenagem ao Porto, ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro.

É simbólico como sublinhado de virtudes nacionais num tempo atreito a desânimos, desilusões e desavenças.

Antes do mais, homenagem ao Porto. À sua História.

De inventiva e de autonomia. Desde o Bispo insubmisso ao Infante D. Henrique e à burguesia cosmopolita que estabeleceu os laços que perduram com o nosso mais antigo aliado.

De resistência ao poder absoluto, também.

Da Revolução de 1820 ao heroísmo na vitória sob o Cerco em plena Guerra Civil e à perene evocação de D. Pedro, exemplo de junção de duas Nações em tempo de sua separação definitiva.

E, depois, História precursora da República em 1891, incansável batalhadora pela liberdade e pela Democracia, da militância intelectual e associativa e laboral ao magistério religioso e à pujança económica.

Numa palavra, o Porto é, de algum modo, o berço da Liberdade e da Democracia.

Mas, se este passado enche o Porto de glória, o presente continua a defini‐lo como terra de gente de caráter, de liberdade, de trabalho, de convivência aquém e além-fronteiras.

O Porto é terra geradora de elites em todos os domínios. No mundo da economia como na universidade, na cultura como nas artes e no desporto. São património imperecível do Porto, Manuel de Oliveira e Agustina, Souto Moura e Siza Vieira, Rui Veloso e Pedro Abrunhosa, Vasco Graça Moura e Daniel Serrão e tantos outros.

E, por isso, olhando para todos eles e para a vitalidade que deles emana, como não adivinhar para o Porto um futuro de grandeza?

As Startups de hoje a prefigurarem a criatividade de amanhã, artistas de todas as idades a fazerem chegar a arte a outras latitudes e longitudes, os invictos a exigirem de si próprios mais espaço para afirmarem mais longe, mais longe ainda a sua vocação universal.

Tudo isto, afinal, expressão ou matriz de uma maneira de ser que não se esbateu com o tempo, antes se reforçou ganhando as camadas da nobre pátina que só o tempo, o verdadeiro tempo histórico sabe conceber.

Dizia, com a autoridade das raízes, Sophia de Mello Breyner “Esta gente cujo rosto (…) faz renascer o meu gosto de luta e de combate”.

Reconhecia o insuspeito transmontano Miguel Torga: “Quem morre pela liberdade todos os séculos, e trabalha desta maneira, há de por força estar bem no Portugal que se quer”.

Amor à Liberdade, exemplo de trabalho, gosto de luta e de combate. Virtudes ancestrais num Porto que nunca cedeu ao desalento, ao pessimismo, ao derrotismo.

Como é essencial para todos nós, este sublinhado de virtudes, assumido sem complexos e com desassombro.

É que dos nossos defeitos falamos nós e falam outros por nós, em demasia.

Portugal precisa de quem recorde a coragem e a tenacidade dos Portugueses.

O que nos divide e diminui conhecemos todos, das ideias aos factos, ao comprazimento com as previsões erradas ou que vão errar, com os caminhos outrora sem saída ou que a não terão no futuro, com o júbilo perante as agruras ou os insucessos dos adversários.

É tempo de falar menos do que nos deprecia, e falar mais daquilo que nos valoriza.

Neste Porto em que “a rudeza e a virtude são muitas vezes companheiras”, como escrevia Alexandre Herculano, deixem-me ser saudavelmente rude para formular aos Portuenses dois pedidos.

O primeiro, o de que jamais troquem a sua liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou económico. O futuro é obra de todos não é dádiva de ninguém. Não há D. Sebastiões em democracia.

O outro, o de que nunca se rendam à ideia errada de que quase nove séculos de história são obra do acaso, que é uma fatalidade que Portugal esteja votado a ser pobre, a ser dependente, a ser injusto, a não ter lugar para a vontade dos Portugueses.

Temos de acreditar em nós próprios e no que valemos e podemos para que as crises deixem de ser o único horizonte possível. Para que seja possível, ao menos de quando em vez, abrir caminho ao sonho.

Aqui, no Porto, é impossível não acreditar em Portugal.

11
Mar
2016