A propósito do falecimento do Presidente Mário Soares

Mensagem a propósito do falecimento do Presidente Mário Soares

A propósito do falecimento do Presidente Mário Soares

Palácio de Belém

7 de janeiro de 2017

Travado o seu penúltimo combate partiu do nosso convívio de todos os dias o Presidente Mário Soares.

Mário Soares nasceu e formou-se para ser um lutador e para ter uma causa para a sua luta, a Liberdade.

A Liberdade em Portugal, a Liberdade na Europa, a Liberdade no mundo.

Foi em homenagem à Liberdade que se viu perseguido, preso e deportado e viveu no exílio, até 1974.

Que por ela se bateu durante os conturbados anos da Revolução. Que liderou um Partido, fez ouvir a sua voz nos Parlamentos Português e Europeu. Chefiou vários governos. Presidiu aos destinos da Pátria.

Mas foi sobretudo como lutador pela Liberdade que se revelou determinante a criar a nossa Democracia, a votar a nossa Constituição, a ver a lusofonia como Comunidade de Estados soberanos e irmãos, a pedir a adesão às Comunidades Europeias e a subscrevê-la – sonhando com uma Europa das pessoas e da solidariedade –, a abrir a nossa diplomacia ao Mundo, a condenar as violações dos direitos humanos e as intolerâncias internacionais, a defender a igualdade que permitisse a verdadeira Liberdade, num quadro de um socialismo democrático, lusíada, europeu, atlântico, universalista e progressista.

Como toda a personalidade de eleição conheceu a glória e o revés, os amores e os desamores de cada instante.

Mas há imagens únicas que ninguém esquecerá.

A presença corajosa ao lado de Humberto Delgado. A resistência a partir do exílio. A chegada a Santa Apolónia. O discurso na Fonte Luminosa. O debate com Álvaro Cunhal. A disponibilidade para servir, como Primeiro-ministro, em duas crises financeiras graves. A tenacidade no termo da primeira volta das Presidenciais de 86. O calor, irrepetível, no encontro com os portugueses, nas “Presidências Abertas”. A alegria no diálogo com as gentes da cultura. O sonho de um Timor-Leste independente. A presença na manifestação contra a intervenção no Iraque.

A partilha de todos estes, e outros lances, com Maria de Jesus Barroso, sua mulher e sua companheira de luta.

O Homem era sempre o mesmo, a causa também a mesma: a Liberdade.

Terminada a penúltima pugna da sua vida resta a Mário Soares, como inspirador, travar o derradeiro combate, aquele em que estamos, e estaremos todos com ele.

O combate pela duradoura Liberdade com justiça na nossa Pátria comum. Que o mesmo é dizer, o combate da imortalidade do seu legado. Um combate que iremos vencer porque dele nunca desistiremos.

Tal como Mário Soares nunca desistiu de um Portugal livre, de uma Europa livre, de um mundo livre.

E no que era decisivo ele foi sempre vencedor.

07
Jan
2017